A orientação topográfica em ratos é acionada por células piramidais do hipocampo que possuem um padrão de potencial de ação para cada local em que o animal se encontra, e por isso são chamadas de "células de localização". O artigo escrito pelos neurologistas Carla Cristina Guariglia e Ricardo Nitrini (ambos da Universidade de São Paulo) "Topographical disorientation in Alzheimer's disease", publicado em 2009, espera estudar esse sintoma comum da doença de Alzheimer que não tem recebido tanta atenção dos pesquisadores como os outros.
Célula piramidal do hipocampo (seta) |
O estudo utilizou trinta pacientes com provável Alzheimer ou leve/moderada demência, todos habitantes de São Paulo e com oito anos de estudo para que a instrução não fosse fator determinante dos resultados. Em contraste com os doentes, foram utilizados trinta pessoas saudáveis para serem usados como controle.
O estudo utilizou-se de vários testes sobre orientação topográfica em geral para analisar o estado dos pacientes e dos controles, com testes específicos para cada habilidade de localização. Por exemplo: a sua orientação topográfica foi testada com 3 perguntas sobre localização e habilidade para caminhar em locais perto de casa, tendo a potuação variando de 0 a 3 (com 3 indicando maior desorientação), e o reconhecimento de pontos turísticos foi testado mostrando 22 fotos de pontos turísticos de todo o Brasil, recebendo a pessoa 1 ponto para cada acerto. O estabelecimento de rotas foi testado pedindo aos pacientes e controles que descrevesse o caminho de sua casa até a mercearia mais próxima, podendo ser pontuado com 0; 0,5 e 1; sendo 1 a pontuação de melhor performance.
Entre todos os testes realizados, que totalizaram 14, os pacientes com demência apresentaram diferenças significativas nos resultados em 11 dos testes quando comparados com os controles. Os pacientes com leve e moderada demência não apresentaram diferenças significativas de resultados entre eles com excessão dos teste de reconhecimento de pontos turísticos e descrição de rota. Entre pacientes com leve demência e os controles nota-se diferenças significativas de resultados em 7 dos 14 estudos.
Os resultados mostraram que até mesmo pacientes com leve demência apresentam desorientação topográfica, apesar de ainda possuirem habilidades cognitivas ausentes nos pacientes com demência moderada, resultados estes também obtidos similarmente em outros estudos sobre o assunto. Isso mostra que alguns sintomas da desorientação topográfica já aparecem no início da doença, sendo um dos primeiros sintomas que podem ser identificados. Por exemplo, a desorientação alocêntrica, que é a incapacidade de determinar a posição de objetos relativos a outros, é um sintoma tanto comum em pacientes com leve demência como em pacientes com moderada, o que prova que é um sintoma inicial, assim como a desorientação egocêntrica que se refere à posição do peciente com relação a outros objetos. Já a descrição de rotas foi um sintoma mais notado em pacientes com demência moderada, com Alzheimer mais avançado.
Além das células piramidais do hipocampo envolvidas, podem ser afetadas células do córtex retrosplênico, causando problemas na orientação, e células do córtex parietal, causando problemas na movimentação óptica (sensação de movimento de objetos e superfícies). Apesar do estudo possuir limitações, já que a DT foi identificada nos pacientes apenas com um questionário e não com um teste ambiental, foi possível detectar a diferença de sintomas e da sua severidade nos pacientes com leve e moderada demência e nos controles.
Escrito por: Patrícia Monteiro
Fontes Bibliográficas:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2009000600001&lang=pt
http://minerva.ufpel.edu.br/~mgrheing/cd_histologia/geral/G5_400x_piramidal_OK.jpg
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