Bioquímica do Alzheimer

“Como é terrível o dom do conhecimento, quando não serve a quem o tem!”

terça-feira, 4 de setembro de 2012


Uma querela: Alzheimer e Alumínio...



Um breve histórico
A hipótese na qual a etiologia da DA está imputada ao metal alumínio foi sugerida em meados da década de 1960. Em 1965, foi reportada degeneração neurofibrilar semelhante a da DA quando da inoculação intracerebral de fosfato de alumínio em coelhos (Klatzo e Terry, 1965). Em 1973, foi divulgada, por meio de citação, que concentrações elevadas de alumínio eram encontradas nos cérebros de todos os pacientes com DA, então acompanhados (Crapper, 1973). Contemporânea a essa citação e pouco após a introdução da terapia por diálise em pacientes com insuficiência renal, Alfrey e colaboradores relataram a encefalopatia iatrogênica causada por diálise. Já na década de 1980, surgiram tentativas de relacionar os níveis de alumínio na água potável com a DA. A esta época, dois estudos paralelos encontraram indícios de que a mortalidade por demência foi superior em regiões da Noruega onde a água potável continha altas concentrações de alumínio (Flaten e Vogt, 1986). Estudos epidemiológicos posteriores, publicados na Grã-Bretanha e em diversos países, ratificaram tal associação.
Ademais, existem muitos experimentos com animais e com células isoladas mostrando que o alumínio apresenta efeitos tóxicos no sistema nervoso, muito embora, em quase todos os casos, a dosagem de alumínio administrada foi muito superior quando comparada ao nível desse metal naturalmente existente nos tecidos (Gilteman, 1988).
Fontes de Alumínio
As principais fontes de alumínio na dieta humana incluem chás, cervejas, produtos assados, água potável, pastas de dente, antiácidos a base de alumínio (Hidróxido de alumínio, principalmente.), utensílios de cozinha e algumas bebidas enlatadas (Rao e Rao 1995). O alumínio assimilado a partir da dieta é muito baixo, sendo que mais de 99% não é absorvido no sistema digestivo. A absorção cresce significativamente na presença de alimentos ácidos, tal como suco de laranja. A pequena quantidade de alumínio absorvida dentro do corpo é rapidamente excretada pelos rins na urina, exceto em indivíduos com função renal acometida, quando a retenção de alumínio dentro do corpo é responsável pela demência por diálise. As complicações clínicas dessa demência iniciam-se com distúrbios de deglutição e da fala após a administração de solução dialítica contendo alumínio. Após meses de tratamento, essas complicações tornam-se persistentes e associadas a mioclonias, distúrbios de equilíbrio, crises convulsivas e alterações cognitivas que afetam , sobremaneira, a memória. Neste contexto, torna-se imperioso frisar que a “demência por diálise” no início do tratamento de insuficiência renal não possui conexões com a DA, uma vez que, nesta complicação iatrogênica são ausentes os emaranhados neurofibrilares e as placas senis, sem contar que existe a possibilidade de se reverter o quadro clínico da mesma através do uso de medicamentos específicos com capacidade de quelar e remover o alumínio em excesso no organismo.
O alumínio é naturalmente presente na água, e o sulfato de alumínio é largamente utilizado no tratamento de água potável. Entretanto, o consumo de alumínio proveniente da água é muito pequeno em comparação com outras fontes do mesmo. Alguma parcela de alumínio pulverizado oriunda do ar pode penetrar pelos pulmões, não obstante, nesta forma o alumínio seja altamente insolúvel e dificilmente uma fração significativa do mesmo alcance o restante do corpo. Além disso, apenas uma pequena proporção de alumínio ingerida a partir de suas diversas fontes é absorvida pelo corpo, e ainda assim essa exígua fração é usualmente excretada na urina ou depositada inofensivamente nos ossos, este último, agindo tal qual, um captador de alumínio. Para saber mais sobre as fontes diversas de alumínio, leia a tabela abaixo:
Os perigos do alumínio
As pesquisas médicas mostram de forma cada vez mais precisa o papel do alumínio como fator que desencadeia doenças autoimunes ou como fator que acelera a degeneração do sistema nervoso (Alzheimer).

Atualmente encontramos o alumínio:
  • nos cosméticos: em pastas de dentes e desodorantes. A pele é uma via de absorção importante;
  • nos medicamentos: em antiácidos, em cerca de 25 vacinas, em certos produtos de dessensibilização (no caso de alergia);
  • nos utensílios de cozinha: panelas, frigideiras ... que passam alumínio para os alimentos cozidos. Existe também o risco de engolir alumínio ao raspar o fundo desses recipientes;
  • nas embalagens de alimentos: latas de bebidas são perigosas se o produto for ácido (suco de frutas, refrigerantes...); papel de alumínio (não devemos cozinhar peixe no forno, embrulhado nessas folhas, com suco de limão); embalagens “tetrapack” que, às vezes, contêm alumínio em contato com o líquido;
  • nos aditivos alimentares: anticoagulantes, endurecedores, fermentantes, emulsificantes, colorantes, acidulantes... alguns são solúveis e podem atravessar a parede intestinal: E 520, 521,522, 523 e 541;
  • na água potável: produtos utilizados no tratamento da água contêm alumínio e, às vezes, a água da torneira contém o metal.
A absorção excessiva de alumínio causa fibralgias (dores musculares generalizadas) e cansaço crônico. Geralmente isso aparece após os 40 anos, mas um número cada vez maior de jovens está sendo afetado. O excesso de alumínio no organismo também pode provocar: miofascite macrofágica, esclerose lateral amniotrófica, esclerose múltipla, poliartritre reumatóide, o mal de Parkinson, o mal de Alzheimer.

Informação adicional: Union Fédérale des Consommateurs,
Caixa Postal 186, cep 40004 Mont-de-Marsan, França.


Fonte: Silence n° 304, dezembro de 2003.

 Tabela acima retirada do site: www.taps.org.br/Paginas/meiopoquim06.html

Discussão
Conquanto ainda não seja possível inferir conclusão alguma se embasando em estudos epidemiológicos, boa parte dos trabalhos tratando da ingestão de alumínio na água potável tem mostrado uma associação positiva entre DA e alumínio, muito embora, com riscos relativos não muito altos. Em virtude de esses estudos terem sido conduzidos em localidades diferentes do planeta, apresentando, pois, metodologias distintas entre si, faz-nos crer que, seria no mínimo inusitado, aceitar um mesmo fator de confusão como o responsável por um sugestivo viés nos resultados obtidos. E, porquanto não exista uma hipótese plausível capaz de justificar os resultados obtidos nesses estudos, parece razoável endossar a hipótese da correlação positiva entre DA e alumínio. Considerando que existem outros fatores envolvidos na patogênese da DA, dentre os quais, genéticos, ambientais, metabólicos e exposicionais, até o presente momento, não totalmente elucidados, poderíamos considerar o alumínio como sendo um cofator na etiologia da DA. Apesar dessas suposições, não são considerados como contundentes os indícios epidemiológicos encontrados para que se estipulem recomendações de limites máximos de alumínio na água potável.
 Sob a ótica oposta, refutando a ideia constante no parágrafo acima, diz-se que o aumento do nível de alumínio no cérebro estaria associado ao processo natural de envelhecimento e não necessariamente à DA.
Também é oportuno citar a existência de duas barreiras, as quais atuam impedindo a absorção e permanência do alumínio no organismo: a barreira do trato gastrointestinal e a barreira hematoencefálica. Pela primeira, o alumínio é quase totalmente eliminado pelas fezes (99,9%), sendo o restante, aproximadamente exíguos 0,01%, excretado na urina. Pela segunda barreira, substâncias externas, inclusive o alumínio, não conseguem alcançar o cérebro através da corrente sanguínea. Adicionalmente, reconhece-se que os fatores genéticos predispõem significativamente à DA.
No futuro, é possível que modelos apropriados de animais transgênicos, passíveis de desenvolver características patológicas da DA em seus cérebros, permitam aos cientistas determinar se tais alterações são aceleradas pelo nível de alumínio ao qual o ser humano normalmente está exposto.


Bibliografia

Postado por: Pedro Lôbo de Aquino Moura e Silva.

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